Quando o texto abaixo foi escrito, no ano de 1950, o autor contava quinze anos de idade.
Com este "ensaio" sobre a Revolução Farroupilha, fruto de exaustiva pesquisa realizada na biblioteca do colégio onde cursava o 4o. ano do ginásio, participou de um concurso de oratória proposto pela escola, revelando-se grande orador.
A apresentação tocou a platéia que o assistia, empolgada. Não venceu, mas fez despertar em muitos, ali, naquele momento, o sentimento de orgulho de ser do Rio Grande...

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

A Revolução Farroupilha - Parte I

A história que eu vos contarei é a história de uma revolução, a maior que até então já abalou a nossa terra. Ela foi maior em três grandes sentidos: maior, porque foi a que mais longe, no Brasil, estendeu as suas raízes revolucionárias; maior porque foi a que maiores proporções atingiu na nossa história; maior, porque foi a de maior significação, a de significação mais elevada das que já houve entre nós.

O Brasil, terra de tanta bravura e heroísmo, já foi teatro de numerosos movimentos de revolta. Não há, talvez, uma região de seu imenso território que ainda não fosse abalada pelos ânimos exaltados de seu povo. Entretanto, nenhum desses movimentos que, sem conta, encontram-se na nossa história, atingiu tão grandes proporções como esse que, por 10 anos, manchou de vermelho as verdes coxilhas do Rio Grande.

Esse movimento foi a Guerra dos Farrapos.

Há muita gente que fala com entusiasmo quando se refere ao imortal movimento dos “Farrapos”, salientando seus feitos históricos e o valor de seus guerreiros, mas desconhecem, completamente, as causas que levaram o povo riograndense a uma revolta que, por muitos anos, trouxe em contínuo sobressalto as autoridades imperiais. Não basta que repitamos a toda hora o “heróico 20 de setembro”, os “gloriosos Farrapos”, o “bravo Bento Gonçalves”; a “legendária Piratini” e tantas outras expressões que demonstram a nossa admiração pela revolta de 1835. Precisamos, sim, conhecer a história para não incidirmos no erro que muitos cometem ao afirmar que os farrapos foi um movimento separatista, que queria o desmembramento e a desunião da Pátria, promovido por elementos despidos de sentimentos patrióticos, ou movidos por instintos de ambição.

Não. Os Farrapos não foi uma revolução separatista, não foi antipatriótica, não quis a dissolução do Brasil, nem possuiu outra série de maus instintos que lhe querem atribuir. Nem seus promotores foram traidores da pátria, ambiciosos, nem merecem todos os qualificativos ruins que lhe infligem injustamente. Não, longe disso! A revolução que, por tantos anos, agitou o sul do país e o abalou tanto, foi profundamente nacional, profundamente patriótica e seus dirigentes foram verdadeiros patriotas, filhos dos quais deve o Brasil orgulhar-se e guardá-los em sua memória como exemplos imortais de amor e patriotismo. Basta imaginar a enormidade de suas proporções para se chegar à conclusão de que, por simples questões de mínimas importâncias ou somente por influências supérfluas de alguns homens, não chegaria todo o povo da província ao ponto de dar seu apoio, cooperar e tomar parte na formidável revolução que, por toda a sua longa duração, ceifou a vida de milhares de brasileiros.

A Guerra dos Farrapos é de todos conhecida. Duvido mesmo que haja, entre vós, alguém que, se a ela não é familiar, não haja pelo menos ouvido falar daquele levante nitidamente popular que empolgou os corações rio-grandenses. Entretanto, não vos contarei a história que todos conheceis, isto é, não a descreverei em todos os seus pormenores porque, se assim o tentasse fazer, perder-me-ia num labirinto infindável de lutas e batalhas, o que seria muito enfadonho para vós. Eu vos contarei, sim, o que foi essa guerra, a preciosa qualidade de sua essência, o verdadeiro produto que dela se pode tirar, o seu significado grandioso e o verdadeiro sentido que ela representa para nós, brasileiros e gaúchos da atualidade.

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